Em dia de apresentação de receitas recorde e um lucro de 934 milhões de euros em 2023 – um aumento de 28,3% face a 2022 – o presidente do grupo Air France/KLM afirma que mantém o interessa na privatização da TAP, mas admite que por agora está numa posição de esperar para ver o que irá decidir o governo que sair das eleições de 10 de março.

“[À espera dos resultados das eleições de] um novo governo em Portugal o projeto de privatização da TAP está em suspenso. Não temos muita visibilidade sobre o que se segue”, afirma Benjamin Smith, o presidente da comissão executiva do Grupo Air France/KLM, candidato assumido à privatização da TAP, a par da alemã KLM e da IAG, uma parceria que junta a British Airways com a espanhola Ibéria.

Sem se alargar muito sobre o tema, Benjamin Smith aponta as virtudes da operação portuguesa, que são sobretudo a geografia e o mercado brasileiro, onde a TAP tem uma forte presença, e a companhia Europeia com maior presença. “A geografia portuguesa, e o facto de a TAP ter um serviço e uma conexão com o Brasil extensivos, no mercado número um da América Latina, combinado com o facto da IAG ter uma grande exposição no mercado ao lado, em Espanha, podendo vir a ter uma posição maior ao nível estratégico [nestes mercados]faz deste negócio algo muito atraente. E é muito importante que olhemos para esta oportunidade. E que olhemos de forma muito cuidadosa”, confessa Benjamin Smith.

Declarações que remetem para um interesse que passa também por não perder terreno para os grandes concorrentes europeus. A Air France/KLM, recorde-se, tem em cima da mesa a compra de 19,9% da escandinava SAS, uma transportadora em dificuldades, por 144,5 milhões de euros. Admitindo que as condições e os termos serão menos favoráveis para a Air France/IAG, sublinha que é atrativo para o grupo que junta companhia francesa e os países baixos. “Vamos ver como o novo governo vai progredir neste projeto”, concluiu o gestor.

Ainda no tema da consolidação, Benjamin Smith não exclui a hipótese de voltar a olhar para a italiana ITA, caso a compra por parte da Lufthansa, negócio à espera de luz verde da direção geral da concorrência europeia, não avance.

2023, ano de receitas históricas

Declarações feitas pelo gestor na conferência de imprensa onde apresentou os resultados do grupo Air France/KLM que bateram recordes de receita com um crescimento de 14% para 30 mil milhões de euros em 2023 face a 2022. E um lucro líquido de 934 milhões de euros, uma subida de 28,3% face ao ano anterior.

Resultados animados pelo aumento do número de passageiros que subiram para 93,5 milhões, um salto de 12,3% face a 2022, com uma taxa de ocupação de 87% (mais 3,2 pontos percentuais). E que lhe permitiram voltar a apresentar fundos próprios positivos, de 500 milhões de euros, pela primeira vez desde 2019. Benjamin Smith sublinhou na conferência de imprensa que o grupo já devolveu aos respetivos Estados os auxílios de Estado.

Em maré de crescimento, a gigante europeia viu o EBITDA (resultados antes de impostos, juros, amortizações e depreciações) subir 16%, para 4, 208 mil milhões de euros.

Em 2023, a margem operacional do grupo Air France/KLM foi de 5,7%, um aumento de 1,2 pontos percentuais, beneficiando de uma combinação entre a maior rentabilidade e a ocupação mais elevada das aeronaves, salienta a companhia.

Houve uma redução da dívida líquida de 20% para 5,041 mil milhões de euros, contra 6,337 mil milhões de euros do final de 2022.

Médio Oriente e África penalizam

Apesar dos bons resultados, o grupo está ser penalizado pela situação geopolítica e de instabilidade e tensão no Médio Oriente e em África, mercados onde a companhia tem uma forte presença, reconhece o gestor, admitindo que a situação pode manter-se tensa em 2024. No quarto trimestre do ano passado, as receitas aumentaram 6,7% mas o lucro operacional caiu 190 milhões de euros, para menos 56 milhões de euros.

O grupo avança que os resultados do primeiro trimestre deste ano também serão afetados pela situação no Médio Oriente, uma vez que a Air France só retomou os voos para Telavive em 24 de janeiro.

Muito falada na conferência, a companhia de baixo custa Transavia, registou um declínio na sua atividade de carga, com um recuo de 6,1% face a 2022, nada que surpreende, diz Benjamin Smith, já que se esperava que com a retoma da atividade comercial e o regresso dos passageiros em força, a carga perdesse peso.

“Em 2023, cumprimos os nossos compromissos e obtivemos resultados operacionais e financeiros sólidos”, declarou o presidente executivo da companhia, Benjamin Smith, citado num comunicado.

O regresso dos Airbus A350

Satisfeito com a recuperação do capital próprio do grupo para terreno positivo, Benjamin Smith avançou em comunicado, que a Air France/KLM fez “uma encomenda histórica de cinquenta Airbus A350 com direitos de compra de quarenta aviões adicionais com direitos de compra de quarenta aviões adicionais, acelerando assim a renovação da nossa frota com aviões de última geração”.

Benjamin Smith salientou ainda o facto da Air France-KLM celebrar o seu 20º aniversário, “uma ocasião mais especial devido aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Paris 2024” dos quais são “um orgulhoso patrocinador oficial”.

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