Ó ser humano não suporta demasiada realidade, sobretudo o fedor da pobreza e a espessura do sangue. Para se protegerem, muitos preferem entrar em negação; a realidade mais dura passa a ser inverosímil; se aceitassem como real aquelas monstruosidades (fome, violência), estas mentes desmoronar-se-iam como muralhas sem argamassa. Aliás, boa parte das polémicas nascem desta necessidade de negação. Sim, a causa das grandes polémicas não são opiniões, são os factos que a maioria ou uma ruidosa minoria não quer ver. Só um facto pode ser tabu. Deparei-me muitas vezes com este bloqueio mental. No início, quando escrevia aqui uma crónica sobre a pobreza rural ou suburbana dos anos 80, tinha logo leitores a dizer que não podia ser, que eu estava a exagerar. A base da polémica em torno do meu “Alentejo Prometido” partiu desta mesmo incredulidade sobre factos indesmentíveis sobre pobreza, violência sexual e bastardia. Como é que a placidez do Alentejo pode esconder tamanha brutalidade? Não, não: ele só pode estar a mentir.

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